Por: Larissa Claro e Thais Cirino – Publicado em: 28.06.2023
Ter o nome e gênero condizentes com a sua personalidade e identidade: uma realidade banal para a maioria das pessoas pode representar a conquista de um sonho para a população trans e travesti. Nesta quarta-feira (28), Dia Internacional do Orgulho LGBT, esse sonho começou a virar realidade para 32 pessoas que procuraram a Defensoria Pública através do mutirão “Meu direito começa pelo nome” para a retificação de prenome e gênero nos documentos.
Durante toda a manhã, a ação realizada pela Coordenadoria de Defesa dos Direitos Homoafetivos, da Diversidade Sexual e do Combate da Homofobia, com apoio da Ouvidoria Geral, atendeu pessoas com histórias de vida parecidas com a de Mateus Soares, um rapaz trans, de 19 anos, que procurou a instituição para fazer a retificação e, desse modo, pôr fim a parte dos problemas que enfrenta diariamente.
“O fato de não ter a retificação gera constrangimento, seja num médico ou na faculdade, que eu já tive que mudar por não aceitarem ( …) A retificação vai acabar isso, pelo menos eu espero”, disse o estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, que é natural de São Paulo, mas vive em João Pessoa e encontrou apoio para fazer a mudança na DPE-PB.

“No mutirão nós focamos na população trans, mas estamos atendendo toda a comunidade LGBTQIAPNB+. Precisamos garantir o direito e a dignidade humana dessa população e chamar a atenção da sociedade sobre o que estamos fazendo com o nosso semelhante”, destacou a coordenadora de Defesa dos Direitos Homoafetivos, Remédios Mendes.
A defensora ressaltou que uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconhece o direito da retificação em cartório desde 2008, sem a necessidade de uma ação judicial. Entretanto, muitas pessoas ainda enfrentam dificuldades, seja pela burocracia que envolve a mudança, seja pelas taxas cobradas no processo de retificação. “Em função disso, a Defensoria Pública atua na garantia do direito, orientando a população e buscando a gratuidade para as pessoas em situação de vulnerabilidade. Muitas pessoas não têm empregos ou acesso à internet, em geral, são pessoas hipossuficientes e precisam desse apoio da Defensoria Pública”, pontuou.
De acordo com Dell Félix, da Associação Iguais, mutirões como o realizado nesta quarta são importantes para reforçar as ações de inclusão social. “Retificar o nome é uma conquista necessária porque facilita a busca por emprego e na hora de tirar um documento. A Defensoria está de parabéns e, mais uma vez, sai na frente. O que importa para a gente ter essa parceria e as instituições que pensam também na gente”.
As ações da DPE-PB em alusão ao Mês do Orgulho seguem nesta sexta-feira (30), com a realização de atendimentos no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em João Pessoa, em evento relacionado à empregabilidade das pessoas trans.
APOIO DA FAMÍLIA – Boa parte dos assistidos pela Defensoria Pública neste dia do Orgulho LGBTQIAPNB+ foram sozinhos à sede da instituição em busca de atendimento, mas para Cristiane Pereira acompanhar a filha neste momento foi mais um gesto de amor.
A mãe de Elizabeth, que é mulher trans, se emocionou ao contar como a família decidiu lidar com a situação. “O que eu quero é ver ela bem. Eu sei que é muito difícil. O meu medo é a sociedade”, admitiu Cristiane ao contar que a filha enfrenta preconceito de pessoas próximas e que vê-la sofrer discriminação a magoa. “Tenho o medo de toda mãe, que é que os filhos se machuquem”, reforçou.
Para Elizabeth, a mudança na documentação é mais um passo na identidade feminina que ela adota desde 2018, quando iniciou a transição. Aos 23 anos, a paraibana se disse aliviada com o apoio da família e reconheceu que essa não é a situação da maioria das pessoas trans. “Foi um alívio muito grande para mim porque a maior parte da minha família me aceita e já me chama pelo nome social”, contou.
Sobre a presença da mãe neste passo tão importante, a jovem avaliou que não poderia ser diferente. “Ela escolheu o meu primeiro nome, mas não meu nome social. Eu queria que ela fizesse parte deste momento”.

“Nunca procurei antes por receio de algo e estou tendo a oportunidade de tirar hoje”, revelou. Jocélio comentou sobre a aceitação da sociedade e lamentou que “alguns tenham um pouco mais de dificuldade”, referindo-se ao preconceito que, segundo ele mesmo, ainda é muito grande. “Uso meu nome social e estou tendo a oportunidade de tornar ele definitivo. Estou muito feliz”, resumiu.

ATENDIMENTOS – Apesar do fim do mutirão, a Defensoria Pública segue com os atendimentos diários voltados à comunidade LGBTQIAPNB+, incluindo as ações de retificação de prenome e gênero. Para ter direito ao atendimento, é preciso levar alguns documentos: certidão de nascimento, certidão de casamento (se for o caso), RG e CPF, título de eleitor, comprovante de residência e certidões de protesto (que podem ser apresentadas depois).
Mais informações sobre o mutirão podem ser solicitadas por meio do contato (83) 99686-1616 (exclusivo WhatsApp), no horário das 8h às 12h, de segunda a sexta-feira, ou pelo e-mail diversidade@defensoria.pb.def.br.

